Recentemente, no último 21 de Maio, o evento Adoção na Passarela, realizado no Pantanal Shopping, em Cuiabá, causou grande indignação entre usuários do Facebook e também entre diferentes organizações ligadas à Infância, como é o caso do Papo de Pracinha.
Em que pese a seriedade e a intenção positiva das instituições organizadoras – Associação Mato-Grossense de Pesquisa e Apoio à Adoção (Ampara) em parceria com a Comissão de Infância e Juventude (CIJ) da Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional Mato Grosso (OAB-MT) -, o evento não foi o melhor contexto, na nossa visão, para dar visibilidade às inúmeras crianças e adolescentes que aguardam um lar, uma família. A adoção não é um negócio de compra e venda, mas um processo extremamente delicado, que envolve afeto, sensibilidade, responsabilidade, humanidade e relações entre pessoas que precisam interagir e se conhecer, visando à constituição de vínculos e de famílias. Expor e produzir crianças e adolescentes em um desfile, para se tornarem mais visíveis, é transformá-las em produtos, competindo entre si, para que sejam escolhidos!
A Rede Nacional da Primeira Infância, da qual fazemos parte, se manifestou por meio de uma nota pública que compartilhamos aqui.
REDE NACIONAL PRIMEIRA INFÂNCIA
NOTA SOBRE A “PASSARELA DA ADOÇÃO”
A Rede Nacional Primeira Infância (RNPI) vem, por meia desta Nota, manifestar total discordância com o evento “Adoção na Passarela”, realizado no dia 21/05/2019 pela Associação Mato-Grossense de Pesquisa e Apoio à Adoção (Ampara) em parceria com a Comissão de Infância e Juventude (CIJ) da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Mato Grosso (OAB-MT).
A RNPI é uma articulação apartidária composta por mais de 200 instituições, entre organizações da sociedade civil, do governo, do setor privado, de outras redes e de organizações multilaterais que atuam, direta ou indiretamente, na promoção e garantia dos direitos da Primeira Infância – sem discriminação étnico-racial, de gênero, regional, religiosa, ideológica, partidária, econômica, de orientação sexual ou de qualquer outra natureza.
Esta Rede reconhece o elevado propósito da Ampare ao realizar aquele evento, pois trabalha, como muitas outras instituições no País, na árdua tarefa de encontrar um lar para crianças e adolescentes que estão em Instituições de Acolhimento, com o poder familiar destituído, e ansiosamente aguardando a adoção.
Deve-se considerar, no entanto, que a adoção é um processo complexo e delicado. Exige uma aproximação cuidadosa entre as crianças e adolescentes e as famílias desejosas de adotá-los. Requer, também uma preparação e o acompanhamento desse processo por parte de equipe técnica especializada. A exposição em eventos públicos transforma a possibilidade da adoção, que deve ser construída com muito amor e responsabilidade, em um ato mercantil. Crianças não são mercadorias para serem expostas em um shopping para serem escolhidas por critérios rasos e superficiais, como a aparência num desfile para o qual “se produziram”, como foi dito pelos organizadores.
A frustração gerada na criança exposta que não venha a ser adotada lhe traz, uma segunda vez, a sensação de rejeição. Essa experiência negativa pode favorecer a emergência ou a continuidade de sentidos subjetivos relacionados à exclusão social. E o seu desenvolvimento psicológico é passível de ser afetado, com graves consequências emocionais. Adoção é assunto sério, que deve ser tratado de forma técnica, amorosa e cuidadosa, para que continue a ser um caminho possível para assegurar o vínculo afetivo e a convivência familiar da criança ou do adolescente. Não é admissível violar o seu lugar de sujeito de direitos expondo-os em público, mesmo que em ambiente restrito, como pessoas desamparadas, sem lar, buscando por uma família. Essa é uma forma desrespeitosa, que fere sua dignidade e sua privacidade de pessoa.
Ações de convívio e formação de vínculos entre crianças e candidatos a pais são louváveis, desde que as crianças e adolescentes e também os adultos sejam previamente preparados. Há várias formas de promovê-las, como por exemplo um dia de brincar entre adultos e crianças, um dia de contação de histórias, ou mesmo um piquenique. Encontros que permitem um conhecimento mútuo, onde as crianças têm a chance de falar de si mesmas, de seus sonhos e sentimentos e interagir construtivamente. Várias entidades da Rede Nacional Primeira Infância têm experiência em projetos de formação de vínculo e convivência familiar e comunitária, em colocação em família acolhedora e em adoção. Elas podem relatar experiências exitosas.
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