(*) Papo de Pracinha
Em geral, mudanças bruscas de temperatura costumam ser a explicação para certas doenças infantis. Crianças com menos de 4 anos, muitas vezes, dizem “não posso tirar o casaco para não ficar gripado” e, também, que não podemos ficar descalços, mexer na terra, ou tomar banho de chuva pelos riscos e conseqüências possíveis.
Pelo simples fato de as crianças não poderem votar, nem dirigir automóvel, por exemplo, antes dos 18 anos, muitas vezes os adultos desqualificam a importância de suas vozes e de suas participações na vida social comunitária, mundial e planetária. Elas têm direito à participação. Essa participação ajuda na constituição do pensamento político, solidário, cidadão e amoroso em relação ao meio físico e social.
Crianças não são seres apassivados, homogêneos em suas idéias, opiniões, histórias de vida e temperamentos. Quando são “ouvidas e respeitadas” podem nos surpreender pela forma como propõem alternativas, apoios a certas causas, e também formas de luta e de resistência. As crianças gostam e se mobilizam com relativa facilidade quando há causas e interesses comuns.
Quando propomos que a vida das crianças esteja, sempre que possível, mais conectada com a natureza, com espaços de convivência e de brincadeira livre que propiciem, além de encontros entre elas, delas com o sol, com as plantas e árvores, como os ventos etc., estamos reiterando a importância de elas perceberem que “na natureza” o mundo nunca é igual. E de que somos todos, sobretudo, um dos elementos desse mundo natural, não o único nem o mais importante. Sozinhos, nada somos e não mantemos sequer a vida humana.
Muitos adultos, como já dissemos, identificam algo de sagrado, de misterioso e até assustador nesse contato direto com a natureza. Por medo e por insegurança, as crianças acabam sendo aprisionadas em suas casas, também em suas escolas, o que gera esse distanciamento contemporâneo delas e de suas famílias em relação ao mundo natural, seus fenômenos e especificidades. Se, por um lado, existe uma compreensão romântica e reificada que viria impor respeito e a natureza intocada, por outro lado, essa mesma postura, talvez, explique uma atitude predatória das pessoas em relação à essa mesma natureza. Assim, os espaços públicos “ao ar livre” que são de todos acabam não sendo apropriados afetiva e efetivamente por ninguém.
Não é desejado, nem possível, esperar que as crianças cresçam para entender a importância de ter uma relação mais produtiva e mais saudável com a vida animal, vegetal, mineral. E, sem esse contato, apropriação e diálogo torna-se muito mais difícil e complexo conversar e envolver as crianças nas questões planetárias. Essas questões envolvem conhecimento, contato e experiências sobre os usos da água, com o lixo, com o plantio de árvores, com uma alimentação saudável etc., também sobre o mundo vegetal e sobre a vida dos animais. Sobre as montanhas, pedras e minerais.
O planeta é de todos e, com isso, os cuidados e preocupação com ele precisam ser efetivos e compartilhados, sem exageros, através de diálogo e de ações efetivas que podem envolver as crianças.
Assim, diante da importância e da participação maciça de crianças e jovens de diferentes países nas questões climáticas e ambientais, o Papo de Pracinha vem dar destaque um dos muitos artigos disponíveis sobre o tema: “Como falar sobre mudança climática com seus filhos?”, disponível na Internet em 22/03/2019.
(*) Angela Meyer Borba e Maria Inês de C. Delorme
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