(*) Papo de Pracinha
Em meio do ano de 2018 e com quase vinte anos já passados desde a entrada do terceiro milênio, ficamos sabendo pela grande imprensa que uma madrasta, apoiada pelo pai biológico da criança, teria alisado e cortado seu cabelo. Em tempo, viva a mídia que, nesse caso, ajudou a mãe da Bella, a Fernanda Taysa, a botar a boca no trombone e, claro, não sem ônus para a Bella e para sua vida.
Isso é altamente preocupante porque traz à tona muitas e variadas questões envolvendo a relação entre adultos e crianças. E o poder, que muitos confundem, diante da responsabilidade de cuidar, proteger e educar.
Esse fato dói muito e de muitas formas. Como assim? A despeito do que pensa a criança é aceitável que alguém lhe imponha um padrão estético e de beleza, sem conhecer, atender e respeitar a diversidade e, pior ou igual, sem respeitar a criança?
Ficamos refletindo aqui sobre que adulto pode, quando e até que ponto pode, impor valores e estéticas às crianças, sem ouvi-las?
- O que deve/precisa ser “imposto” às crianças e como fazê-lo?
- Quem pode, e se pode, se deve e é necessário, impor certas coisas às crianças? Pai e mãe? Avós? Parentes próximos? Vizinhos? Amigos? Babás? Professores?
- Laços biológicos dão aos adultos poderes irrestritos sobre suas crianças?
- Qual é a medida adequada entre o que precisa ser imposto pelos adultos às crianças e o que pode ser negociado com elas?
- O que consideramos violência contra as crianças? Que tipo de punição é adequada a quem comete o ato de violência? Há modos de reverter os impasses e traumas causados nas crianças?
- Pessoas generosas, sensíveis e competentes conseguiram fazer com que o cabelo da Bella, de 8 anos, voltasse a ser, ou a parecer ser como era antes! E a relação dela com a madrasta, com o pai e amigos da escola? Como reverter esse constrangimento da menina?
Cada um de nós, nesse sentido precisa ter clareza sobre a globalidade de suas ações, sobre a legislação de proteção às crianças e, também, sobre “o pente que nos penteia”, fazendo alusão à musica. Sabe-se que não é o pente, o corte nem o fio do cabelo o que importa, mas quem somos nós, inteiros, com os nossos cabelos como são, ou como queremos que ele seja.
Matéria da revista Crescer sobre o caso: Menina que teve cabelo alisado ganha tratamento para voltar a ter cachos
(*)Autoras: Angela Meyer Borba e Maria Inês de C. Delorme.
Foto: Reprodução Facebook
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