(*)Papo de Pracinha
Reggio Emília é uma parte da Itália que fica na região da Emilia-Romana. Com a cidade em ruínas, ao final da segunda guerra mundial, a dramática situação mobilizou, em um grupo de pessoas, o desejo e a necessidade de reconstruir a cidade a partir de uma atenção voltada para as crianças pequenas. Dessa forma, a partir de uma imensa mobilização comunitária, foi construída a Escola 25 Aprille. Nessa empreitada, estava Loris Malaguzzi, um jovem pedagogo que, desde então, passou a ocupar lugar central na construção do Programa Pedagógico de Reggio e na difusão dessa experiência pelo mundo. Hoje, a abordagem de Reggio Emilia engloba uma rede pública municipal de 12 creches e 21 pré-escolas, e inspira muitas escolas, em diferentes partes do mundo. (Disponível na internet no site Reggio Children e no Educação Integral)
A abordagem Reggio Emilia tem como fundamento uma visão da criança como ser potente e sujeito de direitos, que aprende e se desenvolve a partir das relações com os outros. Para termos acesso, ainda que inicial, a esse rico ideário pedagógico, divulgamos aqui alguns pilares nobres em Reggio Emilia, que também o são para a comunidade do Papo de Pracinha. O texto abaixo foi construído por adultos e crianças, juntos e pode ser encontrado no Centro de Formação de Reggio, para interessados e visitantes, com o título de Direitos Naturais de Meninos e Meninas, integrados com os Direitos Naturais mais amplos.
OS DIREITOS NATURAIS DE MENINOS E MENINAS
de Gianfranco Zavalloni, versão para o português de Lena Chianello.
DIREITO AO ÓCIO
de viver momentos de tempo não programados pelos adultos
DIREITO A SE SUJAR
de brincar com a areia, com a terra, com a grama, com as folhas, as pedras, com os raminhos
DIREITO AOS CHEIROS
de perceber o gosto dos cheiros, reconhecer o perfume ofertado pela natureza
DIREITO AO DIÁLOGO
de escutar e de poder ter a palavra, de arguir e de dialogar
DIREITO AO USO DAS MÃOS
de pregar pregos, de serrar e cortar lenha, de lixar e colar, moldar a argila, ler acordes, acender uma fogueira
DIREITO A UM BOM COMEÇO
a comer alimentos saudáveis desde seu nascimento, beber água limpa e respirar ar puro
DIREITO À RUA
A brincar livremente na pracinha, a caminhar pelas ruas
DIREITO AO SELVAGEM
a ter um refúgio nas matas, de ter um bambuzal para se esconder, árvores para subir
DIREITO AO SILÊNCIO
de escutar o assovio do vento, o canto dos pássaros, o borbulhar da água
DIREITO ÀS PAISAGENS
a ver o nascer e o pô do Sol, de admirar na noite a lua e as estrelas
INTEGRAÇÃO AOS DIREITOS NATURAIS
dI Stefano Sturioni
DIREITO À BELEZA
de viver, de frequentar e transformar os lugares marcados por esse valor educativo irreprimível
DIREITO ÀS COISAS NOJENTAS
de aproximar-se, de conhecer animais desprezados pelos adultos, como aranhas, sapos e serpentes
DIREITO DE RALAR OS JOELHOS
sem que o papai e a mamãe façam psicodramas, ameaçando amiguinhos e professores
DIREITO ÀS PESQUISAS E ÀS EXPLORAÇÕES
dialogando com o imprevisível, traçando mapas, coleta de repetição enchendo a casa com coleções, criação de animais
DIREITO À UTOPIA
de imaginar e de habitar mundos diferentes daqueles pensados por eles, frequentando o desconhecido, o invisível, o divergente, o implausível, o desejado…
DIREITO À COMPLEXIDADE
de não serem enganados por explicações banais e simplicistas da realidade das coisas, dos fenômenos, da vida, tendo reconhecidas suas próprias interpretações, os saberes e as competências conquistadas.
(*) Angela Borba e Maria Inês de C. Delorme
Foto: Reprodução
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