Papo de Pracinha (*)
O Papai Noel e a árvore de natal com suas bolas coloridas estão presentes na televisão, nas vitrines dos shoppings, nos supermercados e nas casas de todos, com mais ou menos detalhes e adornos.
As crianças, como produtoras e consumidoras de cultura, sonham em ganhar presentes e acreditam, enquanto podem, na magia do natal. E fazem suas cartinhas! Algumas famílias ainda estimulam isso e muitas instituições de educação infantil também.
Como fazemos todos os anos, procuramos ler respeitosamente algumas cartinhas de crianças contendo os seus pedidos, nunca para criticá-las, mas para entender por onde passam os seus desejos e sonhos.
Pelos pedidos, embora elas ainda acreditem que o bom velhinho fabrique artesanalmente, auxiliado por duendes, anõezinhos e elfos, os presentes solicitados por crianças do mundo todo, o que elas pedem nem sempre se coaduna com a crença que defendem. E no mundo mágico da infância isso pode ser perfeitamente compreendido.
Nesse ano, vivendo com os adultos uma imensa crise econômica e financeira no Brasil, as cartinhas parecem expressar o momento e buscar soluções, ainda que pessoais. As crianças, pela primeira vez com tanta intensidade, pedem explicitamente para “ganhar dinheiro” do Papai Noel: uns pedem vinte reais, há quem peça apenas dez reais e, ainda, um menino de 7 anos que pede um milhão de reais, e nada mais. Há também crianças que pedem brinquedos, ás vezes muitos e caros, duas que pedem um iphone 7 e uma menina que pede para ganhar um violão.
O fato de 35% das cartinhas das crianças expressarem o pedido para “ganhar dinheiro” pode representar alguma “novidade” para nós: pais, avós, educadores e psicólogos. E pode instalar uma preocupação e, também, uma tarefa. O que podemos fazer para que as nossas crianças sejam mais felizes, já que todos vivemos numa sociedade que estimula o consumo desenfreado? De que modo devemos educar as nossas crianças para que elas não acumulem frustrações desde tão cedo e até mesmo uma decepção com a figura Papai Noel? Como é a relação de cada um de nós, adultos, com o dinheiro?
Dinheiro muito, pouco ou o necessário? Não sabemos dizer. Todos gostamos do poder de compra que ele nos proporciona. Precisamos pensar nas representações simbólicas envolvidas nessa relação cotidiana com o dinheiro, com sua falta e no que ele proporciona: poder? Carros? Sucesso material? Felicidade? Amor? Saúde? Solidariedade? E o que mais?
Nosso compromisso com as crianças exige tensionar, o tempo todo, a “cultura material da felicidade”, sem esquecer que, em geral, quanto mais se tem, mais se quer ter e, nesse caso, os conceitos “de pouco e de muito” precisam se relativizar. Está mais do que na hora de tentar responder, cada família a seu modo, a pergunta popularizada pela música do Frejat “Amor para Recomeçar”: “Eu desejo que você ganhe dinheiro, pois é preciso viver também. E que você diga a ele, pelo menos uma vez, quem é mesmo o dono de quem? ”
(*) Angela Borba e Maria Inês de C. Delorme
http://xtrapro.blogspot.com.br/
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